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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fichamento do Texto: Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma história nacional.

GUIMARÃES, Manoel Luis Lima Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma história nacional. Rio de Janeiro: 5 – 24. 1988.

O IHGB (Instituto Histórico Geográfico Brasileiro) foi criado em 1838, pela SAIN (Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional), com o intuito de criar uma identidade de nação (Brasil), em um período onde o sentimento de pátria estava mais voltado para regionalidade, onde cabia a história esse papel central e a geografia a dimensão territorial e as riquezas, contidas no Brasil como um todo.

Segundo Guimarães essa historiografia criada pelo IHGB é fruto de uma geração nascida em Portugal, que aportaram no Brasil devido às guerras napoleônicas, sob influencia iluminista, herdada da SAIN, representa uma história branca, elitista, linear e progressiva, tendo como ideal a monarquia e como inimigo desse estado, as repúblicas, uma história carregada de sentido político. Um modelo diferente do europeu, onde Estado e Nação são concebidos distintamente, aqui ambos se confundem. A história na Europa enquanto disciplina ganha o mundo acadêmico, enquanto no Brasil, torna-se um atrativo da elite, ligada ao imperador, mas também como no europeu tem um caráter patriótico e religioso, influencia educacional de Coimbra. Os membros do IHGB sentem-se na condição de esclarecidos cabendo a eles a missão de instruir o povo, um conhecimento concebido de cima para baixo, fruto de uma sociedade estamental. Sentem-se continuadores da missão civilizadora dos portugueses, colocando o índio e o negro em um estado inferior. Nessa construção de uma identidade nacional, eles ficarão excluídos em um primeiro momento, sendo os negros por um longo período. O IHGB sofrerá em sua historiografia uma influencia muito grande do Institut Historique de Paris, se desvinculando de uma história enquanto marcha progressiva e adotando a compreensão do presente em direção ao futuro – mestra da vida (magistra vitae). Dentro do IHGB, dois pesquisadores influenciaram bastante o instituto com seus estudos: Von Martius que traz para dentro de seus estudos os grupos étnicos que podem ser os formadores dessa nacionalidade: as populações indígenas produzindo mitos da nacionalidade, o branco como ser civilizador e ao negro obtém pouca importância e Francisco Adolfo Varnhagen que pensa em uma história branca, excluindo os outros dois grupos étnicos. Mas a

tentativa de integrarem as populações indígenas a nacionalidade, tem um caráter de branqueamento, do que de aculturação propriamente dita, uma tentativa não de mistura, mas de eliminar uma raça inferior e sua cultura, casando índios com brancos. Já o negro seria responsável pelo atraso ao progresso do Brasil através da escravidão, como resposta a isso é a mão-de-obra indígena, como forma de eliminar esse atraso.

Na introdução, Guimarães trata da história, ganhando espaço na Europa enquanto disciplina nas universidades, onde a questão nacional tem um maior destaque. Aqui essa história ocupará um lugar nas relações sociais, onde nem todos terão acesso e participarão dela, serão somente aqueles que pertencem à elite. Herdeira de uma tradição iluminista do século XVIII. Então com o intuito de criar um espírito nacional, onde o Brasil seria visto como um todo e não em fragmentos (nativismo regional), em 1838, nasce o IHGB. Nesse momento o autor fala da questão do outro em relação ao Brasil, tanto dentro (brancos, índios e negros) quanto fora (outras nações), sendo o primeiro uma espécie de hierarquia, sendo o topo ocupado pelo branco, ligado também à questão regional, onde todos possam ver a pátria em sua totalidade e as outras nações verem o Brasil com um povo, como uma nação. Claro que vale ressaltar que antes de se pensar à questão de povo, José Bonifácio já havia pensado. Ao mesmo tempo em que procura definir uma fisionomia para essa nação, a história trata daqueles que entrarão nela e os que ficarão de fora.

Na parte II, Guimarães mostra a fundação do IHGB pela SAIN, que tem como primeiro-secretário Januário da Cunha Barbosa dando ao instituto a função de coleta e publicação de documentos relevantes para a história do Brasil e o incentivo ao ensino público voltado para a história. O Rio de Janeiro seria o instituto central, onde cada província do império teria uma filial, com o intuito de coleta e envio de dados para a matriz. Os desafios enfrentados pelo IHGB na construção dessa identidade da nação são grandes, já que o modelo usado é muito diferente da realidade do Brasil, que ainda usa mão-de-obra escrava. Tanto a SAIN quanto o IHGB pensam em unificar as regiões do Brasil. O instituto está dividido em 50 membros, sendo 25 para a sessão de história e 25 para geografia, contando com sócios nacionais e internacionais. O instituto passa a ser protegido pelo imperador, recebendo dele ajuda orçamentária, que servia para financiar viagens, pesquisas e coletas de material fora do país. A maioria dos membros da instituição tem cargos no estado imperial. A partir de 1851, a relação do imperador com a instituição torna-se mais intensa, deixando-o a parte de todas as decisões tomadas e indicando pessoas aos cargos. O contato do IHGB com o Institut Historique de Paris, partilhando conhecimento e seus 26 membros que fizeram parte dele. A historiografia criada pelo IHGB, tinha um destino certo que era os letrados ligados ao estado imperial e não as camadas mais baixas. O IHGB abrigava no século XIX, uma concepção antiga de se pensar a história, que devido a influencia francesa, mudando sua visão. A história passa a dar garantias de legitimar decisões políticas, onde cabe ao historiador indicar o caminho da felicidade, do patriotismo, do amor à monarquia, da religião e dos bons costumes. O cientista alemão Von Martius foi o primeiro a dar os alicerces para a construção de nação, ou seja, o povo seria segundo ele a mistura das três raças, destacando a importância de cada uma delas dentro do projeto de nação: o branco com a missão civilizadora, o índio como primeiro habitante, portanto criando o mito da nacionalidade e o negro é ignorado por ele. O projeto de Von Martius seria o ideal para o IHGB, mas esse recusa o convite, sendo Francisco Adolfo Varnhagem indicado para seu lugar com sua História Nacional. Para Varnhagem combater nativismo regional é a forma de despertar nos homens o sentimento pela pátria e o amor ao soberano. O IHGB passa a priorizar as fontes primárias, seguindo a moderna historiografia, dando importância central e a coleta dessas fontes dentro e fora do país. Para incentivar as produções historiográficas o imperador junto ao IHGB, promoverá concursos, onde Domingos José Gonçalves de Magalhães foi premiado por seu trabalho sobre a Balaiada e Conrado Jacob Niemeyer com a carta geográfica do império.

Na parte III, Guimarães revela que a questão indígena ocupa a maior parte dos trabalhos e fontes publicados e usados pelo IHGB, era o momento de se pensar o lugar das populações indígenas na construção da nação. Dentre os materiais usados para abordar a temática indígena estão os documentos que tratam da experiência jesuítica. Januário da Cunha Barbosa pensa em aculturação como forma de integrar o indígena a sociedade dos brancos, mas assim como Von Martius pensa no branqueamento. Para a jovem monarquia era de vital importância o controle das populações indígenas e de fronteiras. Na década de 40 do século XIX, o negro passa a ser analisado no projeto de construção nacional, onde a escravidão é vista como atraso para o país. Então passa desconstruir a noção de que o índio não serve como mão-de-obra, figura criada pelos senhores que se beneficiavam com a escravidão africana. Então o IHGB aponta como solução para a escravidão africana o uso de mão-de-obra estrangeira. Para o IHGB a construção da identidade do Brasil cabe a história e a geografia catalogar a dimensão territorial e suas riquezas. O IHGB valoriza todas as regiões e fronteiras. Essa importância dada ao IHGB na questão da problemática das fronteiras, tem como exemplo Varnhagem assessorou Dom Pedro II.

O autor dialoga com José Bonifácio sobre a miscigenação dos três grupos étnicos; as cartas de Francisco Adolfo Varnhagem ao imperador onde ele relata sobre inspirações de patriotismo livre de juízo de valores e respeito à Europa e a importância de se combater o nativismo regional como forma de despertar nos homens o sentimento pela pátria e amor ao soberano; o discurso de Dom Pedro II para mostrar a influencia do estado imperial dentro do IHGB e sua participação ativa nesse empreendimento; o trabalho de Casimir Broussais para o Institut Historique de Paris onde a história não deve ser vista como marcha progressiva e sim compreendida, do presente em direção ao futuro; Debret relata ao Institut Historique de Paris sobre o avanço do Brasil que aprendeu muito bem com os europeus a fórmula e a importância de Dom Pedro como déspota, no desenvolvimento do IHGB; a edição de novembro de 1843 do jornal Minerva Brasiliense para a necessidade de juntar as províncias, despertando em seus habitantes o amor pelo Brasil, sendo através da história a realização desse objetivo, mas para isso, haveria de ter pessoas qualificadas para compor essa historiografia; as revistas do IHGB onde a história passa a ser garantia e segurança de legitimar decisões, o dever do historiador de indicar aos não esclarecidos o caminho da felicidade, o valoroso arquivo do IHGB que segundo Manoel de Macedo ajudará ao aparelho burocrático, a desconstrução do indígena como preguiçoso, segundo Januário da Cunha Barbosa, na tentativa de que eles substituam a mão-de-obra escrava dos africanos, que segundo a instituição é responsável pelo atraso do país, o texto de Von Martius que venceu o concurso da revista em 1844, onde ele trata da mistura das três raças, que segundo ele é a base para a construção de uma identidade nacional e sua carta ao IHGB relatando a contribuição da história como incentivadora na construção do patriotismo, trazendo o progresso e ajudando a pesquisas posteriores.

“O discurso historiográfico ganha foros de cientificidade num processo em que a ‘disciplina’ história conquista definitivamente os espaços da universidade.” (Guimarães pág. 05).

“E aqui tocamos em um ponto que nos parece central para a discussão da questão nacional do Brasil e o papel da escrita da história desempenha neste processo: trata-se de precisar com clareza como esta historiografia definirá a nação brasileira, dando-lhe uma identidade própria capaz de atuar tanto externa quanto internamente.” (Guimarães pág. 06).

“Construída no campo dos limitado da academia de letrados, a nação brasileira traz consigo forte marca excludente, carregada de imagens depreciativas do ‘outro’, cujo poder de reprodução e ação extrapola o momento histórico preciso de sua construção.” (Guimarães pág. 07).

“Assim, os grandes inimigos externos do Brasil serão as repúblicas latino-americanas, corporificando a forma republicana de governo, ao mesmo tempo, a representação da barbárie.” (Guimarães pág. 07).

“(...) também a SAIN e posteriormente o IHGB pensam em projetos de natureza global, de forma a integrar as diferentes regiões do Brasil, ou melhor, de forma a viabilizar efetivamente a existência de uma totalidade ‘Brasil’.” (Guimarães pág. 08).

“Em 25 de novembro do mesmo ano, Januário da Cunha Barbosa, na qualidade de primeiro-secretário do IHGB (...) definem duas diretrizes centrais para o desenvolvimento dos trabalhos: a coleta e publicação de documentos relevantes para a história do Brasil e o incentivo, ao ensino público, de estudos de natureza histórica.” (Guimarães pág. 08).

“Cinco anos após a sua fundação, as verbas do Estado Imperial já representavam 75% do orçamento do IHGB, porcentagem que tendeu a se manter constante ao longo do século XIX.” (Guimarães pág. 09).

“(...) viagens exploratórias, pesquisas e coletas de material em arquivos estrangeiros, o IHGB se via obrigado a recorrer ao Estado com o pedido de verbas extras, pode-se avaliar como decisiva a ajuda do Estado para sua existência material.” (Guimarães pág. 09).

“(...) 27 fundadores pertencia a uma geração nascida ainda em Portugal, vinda para o Brasil na esteira das transformações produzidas na Europa em virtude da invasão napoleônica à Península Ibérica.” (Guimarães pág. 10).

“A data de 15 de dezembro passou a ser anualmente comemorada como aniversário do IHGB (...).” (Guimarães pág. 11).

“(...) Institut Historique de Paris entre os 46 membros brasileiros arrolados por Maria Alice de Oliveira Faria para o período de 1834-1850, dos quais 26 também faziam parte do IHGB.” (Guimarães pág. 12).

“Embora não claramente explicitado nos primeiros estatutos do IHGB, o objetivo de escrever uma história do Brasil esteve sempre presente.” (Guimarães pág. 13).

“A história é, assim, o meio indispensável para forjar a nacionalidade.” (Guimarães pág. 14).

“O texto, premiado em 1847, do alemão Von Martius, cientista ocupado das coisas brasileiras (...).” (Guimarães pág. 16).

“(...) realizar a idéia da mescla das três raças, lançando os alicerces para a construção do nosso mito da democracia racial.” (Guimarães pág. 16).

“Respaldados nos princípios da moderna historiografia, segundo os quais as fontes primárias desempenhariam para o trabalho do historiador um papel central, os integrantes do IHGB discutem os meios de localização de fontes imprescindíveis à história do Brasil.” (Guimarães pág. 18).

“Os estudos sobre as experiências jesuíticas no trabalho com os indígenas ganharão prioridade na Revista (...).” (Guimarães pág. 20).

“’(...) civilização e estado social’ para caracterizar o mundo dos brancos, e ‘natureza e barbárie’ para caracterizar o mundo dos indígenas (...).” (Guimarães pág. 22).

“O fato de que é a partir do IHGB no Rio de Janeiro que a leitura dessas histórias regionais será empreendida (...).” (Guimarães pág. 24).

O IHGB foi uma peça importante na construção da identidade nacional, assim como os jornais da época também tiveram importância na divulgação da independência. O nativismo regional tão combatido pelo IHGB, sobreviveu às marcas do tempo, de uma forma mais branda nas demais regiões, acentuando-se em maior escala em Pernambuco como é abordado pelo jornalista Lorenzo Aldé em Nação Pernambuco, um orgulho que ultrapassa os limites da América do Sul.

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